quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Num envelope pardo mais um zine - Spell Work

Fico entusiasmada cada vez que recebo um fanzine pelo correio. Funciona como um combustível para essa minha pesquisa sem fim, é a certeza concreta de que eles estão aí, resistindo e se adequando aos meios digitais.
Esta semana o carteiro me trouxe num envelope pardo uma simpática cartinha (escrita a mão), a edição comemorativa nº6 do zine Spell Work e de “brinde” uma publicação alternativa de Recife, que divulgou o SW. O pacote foi enviado por Thina Curtis, arte-educadora de Santo André, a editora do zine.
Na publicação de Recife -Bio Eletric- uma importante citação sobre o trabalho feito em Santo André:
“O fanzine Speel Work se tornou respeitado em todo o mundo através do empenho da equipe envolvida, além dos inúmeros colaboradores.”

A equipe é formada por três pessoas Edson F., de São Bernardo, Marian Schwarz, de Guarulhos e a Thina.
O trabalho é realmente muito bacana e bem feito. Assina a capa Igor Villa, na abertura um breve histórico sobre o escritor e poeta russo Vladimir Maiakovski.
“Amar não é aceitar tudo;
Aliás, onde tudo é aceito,
Desconfio que há falta de amor”

Recheiam as 40 páginas entrevistas e matérias com bandas do cenário independente; divulgação de espaços voltados à cultura underground pelo mundo, como o Small Music Theatre, na Grécia; lançamentos musicais; matérias sobre HQ; indicação de espaços culturais e cursos; um conto escrito por Edson F.; poesias e até uma matéria enviada por um correspondente na Alemanha.
Gosto dos textos e resenhas dessas publicações, mas me encanto, sobretudo, com os editorias, eles dizem muito sobre a intenção e definem a cara da publicação. Assemelham-se em muitos pontos. No início explicações sobre o tempo de “ostracismo” e a falta de espaço:
Algum tempo depois em zine city...
Após um longo e tenebroso período de hibernação e reclusão dos fanzines, cá estamos nós! Com muita coisa para se comentar e infelizmente pouco espaço, para variar...!(...)

Pra finalizar, citam as dificuldades e injetam ânimo nos leitores:
Apesar de todos os obstáculos e dificuldades, estamos aqui mais uma vez divulgando essas nossas artes marginais, nossa subcultura, que cada vez mais rompem fronteiras e provam que são mais que um estilo urbano e uma arte obscura de periferia.
Espero que vocês curtam bastante esta edição e continuem enviando material, fazendo críticas, comentando e se desconectando de uma cultura massificada hipócrita e vazia.

Está aí, isto é um pouco do Spell Work e como citou Thina na cartinha:
Eternidade aos Fanzines!
Visitem o site para conhecer melhor o trabalho dessa galera e enviar material para divulgação: http://spellwork.wordpress.com/
Abraços à toda equipe do SW!!!
Aguardamos a próxima edição.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Entrevista com dois fanzineiros

Resolvi publicar uma pequena entrevista com dois importantes fazineiros do ABC já apresentados aqui: Cláudio Feldman, que por 14 anos editou o alternativo Jornal da Taturana e Renato Donisete, jovem que edita há 18 anos o zine Aviso Final.
Em meio há tantas publicações que surgem, tantas que acabam e outras tantas que migram para a internet, eles falam sobre as motivações e dificuldades de produzir um alternativo, em diferentes épocas, e são até otimistas quanto ao futuro desta imprensa.

EU: Porque criar uma publicação alternativa?
Cláudio Feldman: Criar uma publicação alternativa, no fim dos anos 70, era uma opção válida, já que a grande imprensa ignorava os talentos emergentes e a censura,embora enfraquecida pela Abertura, ainda atuava,embora de modo mais sutil.

Renato Donisete: Na época, em 1990, queria divulgar coisas e escrever sobre assuntos que não via em lugar nenhum, por isso fui à luta e produzi um fanzine.

EU: Como era fazer um veículo alternativo há 18 anos, como é ou como seria fazer este veículo hoje? Existe ainda a mesma motivação?
CF: Fazer um veículo alternativo há l8 anos era algo heróico,que exigia sangue,suor, lágrimas e dinheiro,embora algo prazeroso. Hoje em dia, atrai bem poucos,devido ao alto custo da impressão e do relativo desinteresse do público.

RD: A motivação, por incrível que pareça, é a mesma!!! Tanto é que continuo a editar o zine. Ainda fico ansioso quando vou na gráfica pegar a nova edição. No começo era muito difícil e muitas pessoas me ajudaram (por ex.: meu cunhado xerocava os zines na multinacional que trabalhava). Hoje temos mais facilidades, tanto de impressão quanto de divulgação.

EU: A imprensa alternativa está acabando?
CF:
A imprensa alternativa não está acabando, apenas mudou de mídia: foi para a Internet.

RD: Acredito que não. Tenho recebido muito material do Brasil inteiro, e o mais legal: trabalhos de muita qualidade.

EU: Você criaria um veículo alternativo hoje? Como seria?
CF: Eu não criaria um veículo alternativo, hoje,por cansaço da idade (65 anos),porém já fiz a minha parte e deixo o futuro aos mais jovens.

RD: Continuo criando há quase 20 anos....

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Mais um

Este blog está começando a cumprir a missão de divulgar e coletar outros alternativos que, por falta de tempo, espaço, ou por serem posteriores a publicação, não entraram no livro. Na pesquisa citei apenas veículos das cidades do ABC: Santo André, São Bernardo e São Caetano. Porém, é certo que nos demais municípios que compõem a chamada Grande ABC: Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra, Diadema e Mauá, há muita coisa bacana. Agora há espaço para todos eles, que venham!


Recebi do escritor e poeta de Mauá, Edson Bueno, o jornal Taba de Corumbê.
Fruto de remanescentes de uma oficina literária, o fanzine é mais um representante da imprensa alternativa que surge como espaço para a veiculação de textos de um grupo de escritores. Chamo a atenção para dois detalhes: O primeiro é o nome do zine, que merece uma digna explicação (segue um trecho retirado do editorial da edição número 2); outro é para a constante aparição de animais como mascotes dos alternativos da região: Cigarra, Taturana, Sagui e agora, Tartaruga. Fato no mínimo curioso.
O nome do grupo veio de uma publicação em forma de fanzine: Taba de Corumbê realizada ainda na oficina, mas já com o embrião do grupo.
Taba pela reunião de pessoas, a aldeia por extensão a cidade: a partir do qual, o guerreiros da Taba, como os mais jovens se auto referenciam. Corumbê é o nome de um córrego que atravessa de ponta a ponta um dos bairros mais populosos da cidade: o jardim Zaíra, primeiro como justa homenagem aos seus moradores, e depois por uma questão de sincronidade, porque descobrimos posteriormente que combure é a corruptela de Karumbê, que significa tartaruga em língua franca ou nhegatú que era a língua que se falava em SP antes da intervenção do Marques de Pombal e a imposição do português como língua oficial"

Segundo nos conta Edson Bueno, o zine até agora teve dois números, com um intervalo bem grande, o primeiro em 2003, e o segundo em 2007. Foram distribuídos de mão em mão, o primeiro com uma tiragem de cerca de 800 exemplares. Já no segundo, um aparente ânimo motivou a impressão de 3 mil exemplares. Ainda segundo o poeta mauaense, o grupo sonha com a publicação do número 3.
Espero que se torne realidade e dê logo as caras por aqui!